quarta-feira, 24 de outubro de 2007

sábado, 25 de agosto de 2007

Fotos Antigas de Salvador


Parabéns Salvador-BA pelo seus 458 anos


From: qstress, 4 months ago





Fotos Antiga de Salvador-BA
confira http://www.qstress.blogspot.com


terça-feira, 21 de agosto de 2007

Cidade Baixa: Metamorfose do Comércio.

Gey Espinheira[1]

Uma aparência de anacronismos: os tempos não se harmonizam na paisagem diversa da Cidade Baixa, do Comércio. Uma decadência ali se estabeleceu como uma gangrena em um corpo senil, como se a própria senilidade já não fosse, ela própria, uma promessa de aniquilamento. Prédios, igrejas, lugares abandonados, sujos, arruinados, testemunhados pela vitalidade da cidade inquieta, da gente que trabalha de mil modos para prover suas necessidades, produzindo coisas, cores, sons e odores, para tudo converter em dinheiro, única e grande razão de todos os esforços.

Anônimos, que não se querem esquecidos, picham e grafitam, ou melhor, picham, sujam, muros e paredes, fachadas de prédios, uma escrita, quase sempre feia, desesperada, identitária de pessoas e grupos, que macula a cidade, risca nas faces dos prédios e dos muros sujeiras como uma linguagem tosca, maquiagem malfeita ou que se desfaz e logo lambuza mais que desenha ou enfeita; feições de decadência a dominar as expressões. São tristes essas assinaturas que gritam por presença, que trazem afogados à tona. São tristes porque são desesperadas e sem esperanças, são presenças feias, deselegantes como intromissões, anti-heroísmo dos deserdados que se recusam à exclusão.


Mas, assim é a cidade dos silenciados, os deserdados que se querem fazer ver e ouvir, mesmo em seus gritos roucos e em sua linguagem desconexa, em suas imagens grotescas. Há homens e mulheres grotescos na cidade, que também se torna grotesca na forma de contê-los. De fazê-los grotescos em seus espaços como seus conteúdos. Nessa diversidade, a cidade se expressa, evoca situações e condições de vida de seus habitantes, nem todos bem inseridos no cotidiano de vida que, para muitos, é uma luta nas incertezas das situações imediatas em que vivem(...)

Há um ar de decadência rondando toda essa área da cidade, em que pese o fato de que houve uma intervenção urbana há poucos anos por ali, que deu à Praça Deodoro a aparência e as funções atuais. Antes, um grande estacionamento de caminhões de carga à espera de contratos de transporte e na encosta prédios em condição de arruinamento, e por lá uma gente pobre, desafortunada, alojada em cubículos, ou entre paredes entreabertas de prédios semi tombados, mas também o famoso prostíbulo proletário, o Julião, cuja hierarquia sempre fora mais baixa do que aquele outro, mais ao alto, no emaranhado das ruas do centro histórico, nas vizinhanças do Pelourinho, o Maciel, o maior de todos, com centenas de mulheres e travestis, (Espinheira, 1971, 1984), tudo isso no prolongamento do processo de esclerose e gangrena urbanas, que contaminam certas partes da cidade (...)
[1] Carlos Geraldo D’Andréa Espinheira, doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP); professor dos programas de Graduação e de Pós-Graduação em Ciências Sociais do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia; pesquisador associado ao Centro de Recursos Humanos (CRH) da UFBA; líder do Grupo de Pesquisa: “Cultura, cidade e democracia: sociabilidade, representações e movimentos sociais”.

sábado, 18 de agosto de 2007

Dois extremos da encosta: Pelourinho e Comércio.

O Centro Histórico de Salvador se apresenta nas duas extremidades da encosta, tanto no bairros do Pelourinho na Cidade Alta, como no bairro do Comércio na Cidade Baixa, sendo a ligação entre os dois níveis da cidade feita através de ladeiras, elevadores e planos inclinados.
O bairro do Comércio, na parte baixa da cidade, tem como sua principal característica a função portuária. Sucessivos aterros afastaram o mar de trapiches, ancoradouros e armazéns, modificando a dinâmica do bairro. Cenário de um incrível contraste entre construções de diferentes épocas, organizadas a partir da sua cronologia, quanto mais próximas da encosta, mais antigas e de arquitetura mais rebuscada. Espaço de becos, praças e mercados que abrigam ritmos antigos, e personagens que se estabelecem na rua para diversas atividades: engraxates, amoladores de objetos, e vendedores ambulantes.
O Pelourinho, na parte alta da cidade, é um lugar de marcante identidade afro-brasileira e sofisticado complexo arquitetônico colonial, antigo centro da capital da colônia. Sendo um dos primeiros núcleos centrais das cidades Latino-Americanas a ser objeto de processos de requalificação urbana, para a preservação de valores e patrimônios culturais.
A expansão urbana da cidade desloca suas funções centrais para outras regiões, esvaziando o centro antigo, e alterando suas funções econômicas e características sociais. O primeiro momento, no século XIX, com a implantação do sistema de transportes, que proporcionou um modelo de ocupação da parte alta e sul da cidade por camadas de maior poder aquisitivo, para bairros próximos de praias, construídos por pescadores e veranistas.
O segundo momento, no século XX, com a transferência das funções administrativas do Governo do Estado para o Centro Administrativo da Bahia na Avenida Paralela, e o deslocamento do centro de comércios e serviços para a região do Iguatemi e Avenida Tancredo Neves. Em um curto período de tempo mais de vinte mil funcionários governamentais são transferidos de seus locais de trabalho desta zona da cidade.
A consequência é a substituição da população do centro antigo por uma de menor renda, ocasionando o aumento da densidade e a deterioração dos casarões históricos, sendo a função habitacional destinada apenas a uma população de desafortunados[1].
[1] “Em que diferem os estabelecidos dos desafortunados? Os primeiros são resistentes e emergentes, os segundos são produtos de uma condição de impossibilidades de realização”. ESPINHEIRA, Carlos Geraldo D’Andrea. Identidade de Salvador: signos e vida cotidiana da Cidade Baixa – o turismo, a cultura e a vida social dos estabelecidos e dos desafortunados II. UFBA / PIBIC: 2005.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Centro Histórico de Salvador

Em meio às transformações urbanas, o antigo centro de Salvador ficou excêntrico em relação aos novos acessos da cidade, esvaziando-se e perdendo suas características. O arruinamento do patrimônio arquitetônico e dos negócios sobreviventes transformou o lugar, que passou a reunir em meio à deterioração física, a marginalidade, o baixo meretrício, e uma população desafortunada, tanto de moradores quanto de usuários.
Os planos de requalificação propostos para a área previram possibilidades de desenvolvimento econômico através da implantação do turismo cultural, transformando o Pelourinho em um parque temático a ser visitado, portanto sem moradores. A expulsão da população e a construção de um cenário artificial resultaram num projeto sem sustentabilidade, que depende de frequentes incentivos e isenções do Estado.
Frente a isso, a Sétima etapa de Revitalização do Centro Histórico prevê a permanência da população na Rua do Pilar, no bairro do Comércio, substituindo habitações erguidas na encosta por unidades habitacionais subsidiadas.
As forças da globalização transformam as paisagens familiares a ponto de deixá-las irreconhecíveis, realocam pessoas destruindo os registros de suas identidades, ou invalidando as identidades registradas.