sábado, 18 de agosto de 2007

Dois extremos da encosta: Pelourinho e Comércio.

O Centro Histórico de Salvador se apresenta nas duas extremidades da encosta, tanto no bairros do Pelourinho na Cidade Alta, como no bairro do Comércio na Cidade Baixa, sendo a ligação entre os dois níveis da cidade feita através de ladeiras, elevadores e planos inclinados.
O bairro do Comércio, na parte baixa da cidade, tem como sua principal característica a função portuária. Sucessivos aterros afastaram o mar de trapiches, ancoradouros e armazéns, modificando a dinâmica do bairro. Cenário de um incrível contraste entre construções de diferentes épocas, organizadas a partir da sua cronologia, quanto mais próximas da encosta, mais antigas e de arquitetura mais rebuscada. Espaço de becos, praças e mercados que abrigam ritmos antigos, e personagens que se estabelecem na rua para diversas atividades: engraxates, amoladores de objetos, e vendedores ambulantes.
O Pelourinho, na parte alta da cidade, é um lugar de marcante identidade afro-brasileira e sofisticado complexo arquitetônico colonial, antigo centro da capital da colônia. Sendo um dos primeiros núcleos centrais das cidades Latino-Americanas a ser objeto de processos de requalificação urbana, para a preservação de valores e patrimônios culturais.
A expansão urbana da cidade desloca suas funções centrais para outras regiões, esvaziando o centro antigo, e alterando suas funções econômicas e características sociais. O primeiro momento, no século XIX, com a implantação do sistema de transportes, que proporcionou um modelo de ocupação da parte alta e sul da cidade por camadas de maior poder aquisitivo, para bairros próximos de praias, construídos por pescadores e veranistas.
O segundo momento, no século XX, com a transferência das funções administrativas do Governo do Estado para o Centro Administrativo da Bahia na Avenida Paralela, e o deslocamento do centro de comércios e serviços para a região do Iguatemi e Avenida Tancredo Neves. Em um curto período de tempo mais de vinte mil funcionários governamentais são transferidos de seus locais de trabalho desta zona da cidade.
A consequência é a substituição da população do centro antigo por uma de menor renda, ocasionando o aumento da densidade e a deterioração dos casarões históricos, sendo a função habitacional destinada apenas a uma população de desafortunados[1].
[1] “Em que diferem os estabelecidos dos desafortunados? Os primeiros são resistentes e emergentes, os segundos são produtos de uma condição de impossibilidades de realização”. ESPINHEIRA, Carlos Geraldo D’Andrea. Identidade de Salvador: signos e vida cotidiana da Cidade Baixa – o turismo, a cultura e a vida social dos estabelecidos e dos desafortunados II. UFBA / PIBIC: 2005.

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